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ORGASMO

Entre o corpo e o comportamento, o Dia do Orgasmo como convite ao debate.

Por Luiz Filipe Antonio, 31 de Julho de 2025

O Dia do Orgasmo é uma data simbólica, celebrada em 31 de julho (ou 8 de agosto, em algumas regiões), criada para estimular o debate aberto sobre prazer sexual, saúde e autoconhecimento. Por meio de campanhas, eventos e conteúdos educativos, essa data visa combater tabus e ampliar o acesso à informação de qualidade sobre o orgasmo — especialmente em contextos marcados por repressão, desinformação ou desigualdade de gênero. Ainda que muitas vezes explorado de forma superficial ou comercial, o Dia do Orgasmo segue como uma oportunidade de repensar a sexualidade de maneira mais consciente, inclusiva e saudável. Tendências recentes indicam uma crescente valorização do prazer como direito humano, com foco em educação, diversidade e bem-estar.

Você já se perguntou por que, mesmo sendo uma experiência intensa, o orgasmo é tão difícil de alcançar para algumas pessoas? 

Mais do que uma sensação fisiológica marcante, o orgasmo é resultado da interação entre processos corporais, padrões comportamentais aprendidos e as condições sob as quais essas aprendizagens ocorreram ao longo da vida. Entender isso pode modificar significativamente os modos como homens aprendem a se engajar em práticas sexuais e os efeitos dessas práticas. 

Em tempos em que o prazer é cada vez mais discutido — seja para promover produtos, romper tabus ou ampliar direitos —, o orgasmo ainda é cercado por concepções limitadas. Homens, em especial, costumam aprender a associá-lo à ideia de desempenho, controle e validação da masculinidade, além do ejacular / gozar. No entanto, essas ideias simplificam uma realidade muito mais complexa. Neste artigo, propomos uma leitura ampliada do orgasmo: não apenas como um evento corporal, mas como um comportamento construído e mantido em função das consequências que produz ao longo da vida. Para isso, articulamos aspectos biológicos com os fundamentos da Análise do Comportamento propostos por B. F. Skinner e desenvolvidos pela Terapia Analítica Comportamental.


Muito além da biologia 

A explicação mais comum sobre o orgasmo é a de um fenômeno puramente biológico: uma espécie de “descarga” ao final de um ciclo de excitação sexual. De fato, o corpo desempenha um papel fundamental — contrações musculares, liberação de dopamina, picos de oxitocina, aceleração dos batimentos cardíacos, entre outros eventos fisiológicos, compõem esse processo (Pfaus, 2025; Alwaal et al., 2015; Puppo, 2013). No caso dos homens, o orgasmo frequentemente ocorre junto da ejaculação, reforçando interpretações voltadas à função reprodutiva (Pavličev & Wagner, 2016). Essa explicação, no entanto, se mostra limitada quando consideramos que o orgasmo também pode acontecer em situações sem penetração, sem parceiros e, por vezes, até mesmo sem toque direto. Se fosse apenas uma resposta automática do corpo, como um espirro, por que sua ocorrência varia tanto entre pessoas, e por que depende tanto do ambiente, dos estímulos disponíveis e das experiências anteriores? É nesse ponto que a biologia sozinha não dá conta — e olhar para o comportamento se torna essencial.

Dentro da Análise do Comportamento, compreende-se que os comportamentos humanos, inclusive os sexuais, não são explicados apenas por sua forma, mas por suas funções — isto é, pelos efeitos que produzem no ambiente e pelo que fazem com que a pessoa continue ou não a se comportar daquela maneira (Miller et al., 2019; Baum, 2011). Assim, o orgasmo, embora envolva reações físicas involuntárias, não é apenas um reflexo, mas o desfecho de uma cadeia de comportamentos que foram aprendidos e reforçados ao longo do tempo. Um exemplo claro disso é a masturbação: ao longo das experiências, a pessoa aprende quais estímulos, ritmos e contextos produzem prazer. Essas práticas se mantêm porque o prazer que geram fortalece a probabilidade de repetição. Nesse processo, o orgasmo funciona como um reforçador positivo: ele fortalece as respostas que o antecederam. Essa lógica também explica por que algumas pessoas desenvolvem grande dependência de determinados estímulos para alcançar o orgasmo, enquanto outras apresentam maior variabilidade nos caminhos que levam à resposta. Em ambos os casos, o que determina isso são as contingências — ou seja, a relação entre o comportamento e seus efeitos no ambiente (Miller et al., 2019; Baum, 2011).

Se os fatores corporais e comportamentais têm peso importante, os elementos culturais e sociais também são decisivos. Desde cedo, aprendemos regras, normas e discursos que moldam a forma como agimos sexualmente. Homens, por exemplo, frequentemente entram em contato com instruções do tipo: “não pode gozar rápido”, “tem que provar que é viril”, “não pode falhar”. Essas regras funcionam como molduras que orientam e restringem certos comportamentos. Quando um homem aprende, por exemplo, que “brinquedo sexual é coisa de mulher”, ele pode evitar explorar novas formas de prazer, mesmo que elas fossem eficazes para ele. Da mesma forma, se foi punido verbalmente por se masturbar, pode ter desenvolvido comportamentos que envolvem evitação ou tensão durante o ato, o que prejudica as condições necessárias para o prazer. Assim, o orgasmo não é apenas o resultado de um estímulo adequado, mas de um contexto mais amplo que envolve práticas passadas, linguagem aprendida, efeitos do ambiente e processos corporais. Dificuldades sexuais, portanto, não devem ser entendidas como falhas do corpo ou "da mente", mas muitas vezes como padrões de comportamento restritos, mantidos por regras rígidas ou por ambientes pouco favoráveis à variabilidade.


E se não acontece? Intervenções e possibilidades 

A boa notícia é que, se o orgasmo é um comportamento, ele pode ser modificado (Miller et al., 2019). E isso abre espaço para intervenções fundamentadas na ciência do comportamento, que buscam compreender como esse comportamento foi construído e como pode ser reorganizado. A Terapia Analítica Comportamental, por exemplo, possibilita mapear as contingências envolvidas e propor novos arranjos: experimentação de estímulos diferentes, flexibilização de regras aprendidas, desenvolvimento de formas mais amplas e funcionais de descrever o próprio comportamento, além da ampliação do repertório de ações possíveis. Em vez de partir da ideia de que o orgasmo “deveria acontecer naturalmente”, essa abordagem propõe compreender por que ele não ocorre em determinado contexto — e intervir a partir dessa análise. Essa forma de olhar também contribui para despatologizar vivências como a anorgasmia. Em vez de tratá-la como falha fisiológica ou emocional, ela pode ser entendida como um comportamento pouco desenvolvido ou enfraquecido por condições específicas — que podem ser analisadas, trabalhadas e reconstruídas, se isso fizer sentido para a pessoa envolvida.

Compreender o orgasmo como um comportamento — e não como um reflexo inato ou um dom pessoal — é um passo importante para pensar o prazer de forma mais livre, mais inclusiva e mais humana. Isso significa reconhecer que o orgasmo não está “pronto” em nós, mas é construído ao longo da vida, com o corpo, com as experiências e com os contextos (Pfaus, 2025; Baum, 2011). Essa visão permite atuar em contextos clínicos e educativos com mais eficácia e menos julgamento. Ela nos convida a olhar para o prazer como algo que pode ser aprendido, cultivado, expandido — respeitando a trajetória de cada pessoa, mas também abrindo possibilidades para novos caminhos. Talvez, então, a pergunta mais relevante não seja “por que eu não consigo gozar?”, mas sim: Quais foram as condições que moldaram minha forma de buscar prazer — e o que pode ser diferente a partir de agora?


Referências:

Alwaal, A., Breyer, B. N., & Lue, T. F. (2015). Função sexual masculina normal: ênfase no orgasmo e na ejaculação. Fertility and sterility, 104(5), 1051-1060. https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2015.08.033

Baum, W. (2011). O que é Behaviorismo Radical? Uma revisão dos Fundamentos Conceituais do Behaviorismo Radical, de Jay Moore. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 95, 119–126. https://doi.org/10.1901/jeab.2011.95-119

Pavličev, M., & Wagner, G. (2016). The Evolutionary Origin of Female Orgasm. Journal of Experimental Zoology Part B, 326(6), 326–337. https://doi.org/10.1002/jez.b.22690

Pfaus, J. (2025). Orgasms, sexual pleasure, and opioid reward mechanisms. Sexual Medicine Reviews. https://doi.org/10.1093/sxmrev/qeaf023

Puppo, V. (2013). Anatomy and physiology of the clitoris, vestibular bulbs, and labia minora with a review of the female orgasm and the prevention of female sexual dysfunction. Clinical Anatomy, 26. https://doi.org/10.1002/ca.22177

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